Em toda passagem de ano reside um encanto … mas nunca saberemos qual é. Atribuímos desejos aos próximos dias como se fogos, champagne, festas e todo o ritual de ano novo fosse ter o poder de transformar as vidas das pessoas. Pensamentos positivos, ondas puladas, embriaguez e oração. Seja o mar, o álcool, os ficantes das festas, Deus ou a lentilha … seja lá o que for, a impressão que sempre tive …é que essas supostas forças carregam homens e mulheres anos e anos na Terra perpetuando a espécie humana, mas são anos e anos que se parecem em muitos aspectos. A descoberta do rádio não tem a mesma importância que já teve, nem os nossos ascendentes … afinal, hoje, os algoritmos conduzem a vida da maioria de nós e como um rebanho sem pastor, cada ovelha não se contenta em ser ovelha … cada ovelha quer marcar ou monetizar sua presença no mundo, aliás na Terra. Mas continuamos a ser ovelhas … seremos esquecidos. A história que não vemos por completo é a que empurra o Homem para frente … essa história pode ser lida cada vez que olhamos para dentro de nós e dentro do outro. E fazendo isso silenciosamente recolhemos partes para compor a nossa história. Essa história invisível pode fazer do lugar em que vivemos um espaço digno para que gerações sejam recebidas com pratos de comida, vacinas, ar respirável, animais livres… ao invés de ensinarmos, logo cedo, aos nossos filhos o que é injustiça social. Quantos anos novos precisaremos para romper tantas diferenças ? Para que a esmola não seja filmada no Instagram como se fosse sinal da evolução e da bondade humana ? Quantos anos novos precisaremos para que o sentido da existência esteja menos nas coisas e mais nas pessoas ? Que o ano 2022 depois de Cristo nos faça pensar em quem passou há 2022 anos ou mais por aqui … e fez a diferença.
Katia Oddone Del Porto
Parabéns pelo belíssimo texto!
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