Eu esperava o final do mundo como quem espera uma bicicleta que não poderá ganhar … postergava esse final … pensava: um dia pode acontecer ! Um dia poderei pedalar … Mas o final do mundo não é o final de tudo … demorei para entender ! Entender como é subjetivo o significado dos términos … sejam grandes ou pequenos …totais ou parciais … Ouço bombas caindo por toda parte … e não sei onde caem e quem morre… quem vive … quem sofre quem não sofre …uma bomba invisível e inesperada… Desço as escadas do meu pensamento e lá no coração vejo melhor … e o que vejo ? Vejo sirenes de ambulâncias e faróis piscando para bares lotados e resorts cheios de pessoas protegidas pela crença de que com elas nada acontece … Vejo pessoas encolhidas nos ônibus e no metrôs desviando os rostos daqueles que sem máscaras usam máscaras que escondem desrespeito … Vejo colegas exaustos de rituais para não se contaminarem … Vejo o trem turístico lotado …lotado de últimos sonhos … lotado da ideia de que é melhor que o último suspiro seja um passeio ou uma embriaguez
E me pergunto: O que é ser jovem ? O que é um ano? O que é estar ali ou aqui, se tudo sempre será provisório, temporário, dentro ou fora de uma pandemia ? Querer viver ou não querer morrer se equivalem … um ano ou 30 anos se equivalem … pq a vida é isso: é um minutinho ali na esquina … ou horas ali bem longe … mas é tempo, sempre é tempo … Tempo de vida não temos como calcular … mas temos como não acreditar que perdemos tempo ao nos preservar e ao preservar outras pessoas .. e que perdemos tempo quando não olhamos em frente e colocamos o sentido de nossa existência em tudo que nos falta. Sempre faltará algo. A pandemia só mostrou que a falta existe e que tentar preenche -la não é um trabalho pontual. Kátia R Oddone Del Porto
